É fascinante o itinerário espiritual de São Vicente de Paulo. Depois da ordenação sacerdotal e de estranha aventura de escravidão em Túnis, ele parece voltar as costas ao mundo dos pobres, rumando a Paris na expectativa de adquirir um benefício eclesiástico. Conseguiu colocar-se como esmoler da rainha Margarida. Tal posto fê-lo aproximar-se da miséria humana, especialmente no novo Hospital da Caridade. É então que o Padre de Bérulle, fundador do Oratório na França, lhe proporciona por meio de uma série de iniciativas aparentemente pouco coerentes a oportunidade para as descobertas que foram a origem das grandes realizações da sua vida. Transitando continuamente com os Gondi por seus castelos e propriedades do interior, Vicente de Paulo

O Priorado de São Lázaro, adquirido por volta de 1632, motivou logo o apelido de “lazaristas” aos membros deste grupo sacerdotal que cresceu rapidamente, implantando-se em cerca de quinze dioceses para missões paroquiais e fundação de “Caridades”. A Congregação da Missão estendeu-se até à Itália, à Irlanda, à Polônia, à Argélia, a Madagáscar. Vicente não cessa de inculcar em seus companheiros “o espírito de Nosso Senhor”, que ele compendia em cinco virtudes fundamentais: simplicidade, mansidão em relação ao próximo, humildade em relação a si mesmo, e, enfim, como condicionamento para estas três, a mortificação e o zelo, que seriam como seus aspectos dinâmicos. Outro aspecto do dinamismo e do realismo de Vicente de Paulo foi dotar as “Caridades”, já numerosas, de uma estrutura de unidade e eficiência.
A 29 de novembro de 1633, nascia a Companhia das Filhas da Caridade, recebendo de Vicente de Paulo um regulamento original e exigente: “Tereis por mosteiros a sala dos doentes; por cela, um quarto de aluguer; como capela, a igreja paroquial; como claustro, as ruas da cidade; como clausura, a obediência; como grade, o temor de Deus; como véu, a santa modéstia”. O espírito da Companhia foi assim resumido: “Deveis fazer o que o Filho de Deus fez na terra; a estes pobres doentes, deveis dar a vida do corpo e a vida da alma”.
No encalço de Luísa de Marillac, milhares e milhares de mulheres consumaram a vida no humílimo serviço dos sofredores, dos mendigos, dos prisioneiros, dos marginais, dos excepcionais, dos analfabetos, das crianças abandonadas. Como o Pai Vicente de Paulo elas são, após ele, o coração do Cristo no mundo dos pobres e também dos ricos, a quem procuram tornar generosos para com os pobres.
By Mauro do Coral
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