terça-feira, 12 de março de 2013

CONCLAVE - COMO SE ELEGE UM NOVO PAPA


A eleição de um novo papa é feita através de um Conclave, do latim cum clave, uma referência ao fato de que os cardeais ficam literalmente "com chave" da convivência com o exterior durante o processo de escolha. 
O Conclave deve ser sempre convocado entre 15 e 20 dias após a morte - ou renúncia, de um papa. O período em que é respeitado o luto oficial e são realizados o velório e os funerais do Pontífice é conhecido como novemdiales, quando ocorrem missas em homenagem ao papa falecido por nove dias seguidos. 
O período de transição entre a vacância do papado e a eleição de um novo Papa, é conhecido como Sé Vacante, pois o trono da Igreja fica desocupado. 
A administração dos bens e das leis do Vaticano fica a cargo do Camerlengo, que é responsável por despachar apenas sobre assuntos ordinários, inadiáveis e referentes à eleição. Ele também é responsável por constatar a morte do papa, recolher e destruir o selo e o anel pontifícios e lacrar os aposentos em que o pontífice viveu, ao qual somente o novo Pontífice eleito terá acesso. 
Uma vez tendo recebido a notícia do falecimento do Papa, o Cardeal Decano (presidente do Colégio dos Cardeais) deve transmitir a notícia a todos os cardeais e convocar o Colégio Cardinalício. 
Durante o período de Sé Vacante, o governo da Igreja fica a cargo do Colégio dos Cardeais.
Ele é um dos pouco oficiais da Santa Sé que não perde o cargo durante o período de transição. 
O período de luto e os momentos reservados para que os cardeais se reúnam e debatam as características que o futuro papa deve ter, bem como abordam possíveis candidatos à sucessão papal, se encerram com a missa Pro Eligendo Pontifice, celebrada na Basílica de São Pedro, em que todos os cardeais devem estar presentes e que é realizada na manhã do Conclave. 
Neste mesmo dia na parte da tarde, os cardeais eleitores com vestes corais dirigem-se, em procissão solene e invocando, com o cântico do Veni Creator (“Vinde Espírito Criador...”), a assistência do Espírito Santo, para a Capela Sistina, que, por determinação do papa João Paulo II, é obrigatoriamente o local em que deve ocorrer o Conclave. 
Os cardeais devem ocupar cadeiras já destinadas a eles e que levam o nome de cada um. 
O Camerlengo e cada um dos cardeais leem o juramento que os obriga a aceitar as condições do Conclave. 
Depois de ter prestado juramento, o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias pronuncia a ordem extra omnes, e todas as pessoas estranhas ao Conclave deverão deixar a Capela Sistina. Os cardeais encontram-se então, de fato, trancados com chave.
A partir deste momento fica vetado a todos os cardeais e aos demais funcionários do Vaticano que auxiliam no Conclave manter qualquer tipo de comunicação com pessoas que não estejam envolvidas. Bento XVI incluiu recentemente nas regras do Conclave que aqueles que violarem o segredo da eleição do sucessor de Pedro serão punidos com excomunhão - pena que também recebem aqueles envolvidos em compra de votos. 
As regras do Conclave estipulam que apenas 120 cardeais podem participar da eleição e que todos devem ter menos de 80 anos no dia em que o Papa morrer ou renunciar, no caso atual, no dia 28 de fevereiro. Não há regras específicas para o caso de haver mais de 120 cardeais aptos a votar, o que não acontecerá desta vez.
No dia do início das votações, duas mesas são levadas ao altar. 
A primeira é reservada aos cardeais revisores do processo eleitoral. 
Na segunda são colocados três grandes vasos de vidro transparente e uma bandeja de prata sob um pano púrpura.
O processo eleitoral começa com a eleição, por sorteio, de três cardeais escrutinadores que ficarão responsáveis por verificar e contar os votos.
Eles são designados, por ordem de sorteio, como primeiro, segundo e terceiro escrutinador. Em seguida, são sorteados três cardeais infirmarii, que recolhem os votos daqueles que eventualmente vierem a adoecer - estes são recolhidos para a Casa de Santa Marta, onde se alojam todos os cardeais eleitores. 
Por fim, são sorteados três cardeais revisores, que têm a função de ratificar os votos. 
Bento XV definiu que, independente do tempo que o Conclave demore, um cardeal precisa receber dois terços dos votos para ser eleito papa - teoricamente qualquer homem adulto católico pode ser eleito papa, mas desde a organização no formato atual do Conclave, no século XII, apenas cardeais foram eleitos.
A votação compreende três passos: contagem dos votos, verificação dos votos e destruição das cédulas com fogo. 
Iniciada a votação, são distribuídas tiras de papel que estavam depositadas nos três vasos de vidro sobre a segunda mesa. Estas cédulas consistem em um papel branco retangular que traz escrito no topo a frase em latim Eligo in summum pontificem (Elejo como Sumo Pontífice). Cada cardeal recebe cópias extras da cédula para eventuais rasuras e erros.  
O voto deve ser escrito em letras maiúsculas e grafia clara e impessoal, para que não possa ser reconhecido. Assim que definir sua recolha, o cardeal deve dobrar o papel e apertá-lo junto as mãos, recolhendo-se à oração: "Chamo como testemunho Jesus Cristo, o Senhor, que seja meu juiz, que o meu voto seja dado àquele que perante Deus considero dever ser eleito". 
Tendo todos concluído suas escolha, os votos começam a ser depositados pelos cardeais mais velhos. Eles então se dirigem à segunda mesa e depositam o voto sobre a bandeja. 
Em seguida levam esta até a boca do primeiro vaso e a inclinam até que a cédula tenha sido depositada. 
Concluído este processo, o 1º cardeal escrutinador pega o vaso e o leva para mesa de escrutínio. Após agitar a urna para embaralhá-los, começa a retirar os votos. 
O 1º escrutinador confere cada voto, passa para o segundo, que passa para o terceiro, e este lê em voz alta para que os demais ouçam distintamente - se o número de votos não coincidir com o número de cardeais, eles são queimados e ocorre uma nova votação. 
Após o fim do processo, o 3º escrutinador fura e costura cada cédula de voto com agulha e linha na altura da palavra Eligo.
Os votos costurados são então depositados no terceiro vaso. Os escrutinadores então contam os votos.
Na sequência, os revisores repetem a contagem. 
Caso nenhum cardeal atinja dois terços dos votos, todas as cédulas (incluindo as reservas), assim como as anotações feitas pelos cardeais durante a votação anterior, são recolhidas a uma caixa. A caixa é levada a um forno contíguo à Capela Sistina. É adicionada palha molhada e alguns produtos químicos à caixa e ela é queimada, emitindo assim uma fumaça negra. 
Caso um cardeal tenha obtido os dois terços dos votos, o Camerlengo, em nome de todo o Colégio Cardinalício, pede o consentimento do eleito e este deve então aceitar se tornar o novo papa. Se assim o fizer, imediatamente ele deve informar o nome pelo qual deseja passar a ser conhecido. 
O novo papa então é conduzido à Sala das Lágrimas pelo Camerlengo e o Mestre de Cerimônia e troca seu traje por uma batina própria ao novo cargo. 
Três tamanhos de batina são preparados de antemão para que não haja demora nesta etapa. 
Ele retorna ao encontro dos demais cardeais já trajando a batina papal. 
A seguir, estes prostram-se para prestar o ato de obediência ao novo Sumo Pontífice, que consiste em beijar-lhe o pé. 
A caixa que contém os votos da eleição bem sucedida é então levada ao forno, juntamente com palha seca e produtos químicos, para que uma fumaça branca seja expelida. 
O Cardeal Protodiácono, atualmente o francês Jean-Louis Pierre Tauran, segue então para a sacada da Basílica Vaticana e anuncia a eleição do novo papa, pronunciando o tradicional Habemus Papam. O novo Papa é então apresentado ao povo de Roma e ao mundo na sacada da Basílica de São Pedro e dá sua primeira benção como Pontífice.

By Mauro do Coral

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